Ancorada por grandes marcas, a Metaverse Fashion Week foi criada para testar o apetite das marcas e do consumidor pela moda digital

Nos bastidores existe tensão sobre como os designs se traduzirão no mundo virtual da Decentraland, preocupação com a proximidade com outras marcas, incertezas sobre a cobertura da imprensa e também quem comparecerá e se comprará.

“É um grande experimento que está ganhando vida”, diz Evangelo Bousis, cofundador da Dundas, que recentemente digitalizou o look que fez para a performance de Mary J Blige no Super Bowl e está participando da primeira Semana de Moda do Metaverso (MVFW). “Estamos todos ali pela primeira vez – essa é a beleza de tudo isso –, mas você fica nervoso”, admite Bousis. “Ficamos preocupados porque é uma extensão da grife e queremos que isso esteja na marca.”

“O tempo para planejar e preparar está chegando ao fim. Os designers estão demorando para se comprometer com os conceitos finais, exigindo implementação urgente de 50 empresas de tecnologia”, conta Sam Hamilton, diretor criativo da Decentraland Foundation. E ainda não estão confirmadas as apresentações digitais de dois grandes nomes da música.

“Não tem a ver especificamente com moda, mas com o mundo físico versus o digital”, diz ele, ao falar sobre os ajustes e novidades necessários para se adaptar a uma semana de moda no metaverso. “Essa é a primeira vez que muitas marcas estão em um evento virtual. Para todos os envolvidos, essa é a primeira vez que participam de um evento virtual de moda desse porte.”

A MVFW, que começa nesta quinta-feira (24.03), na plataforma imobiliária virtual Decentraland, é o maior evento de moda digital até hoje. Ele é aberto a qualquer pessoa e incluiu uma programação de eventos contínuos ao longo de quatro dias: desfiles, showrooms, lojas, painéis, festas virtuais e lançamentos de NFT. Ela também se tornou um grande evento de crossover para a moda mainstream, com marcas como Paco Rabanne, Dolce & Gabbana, Etro, Tommy Hilfiger, Dundas e Cavalli — todas prontas para se juntar a empresas digitais como a Auroboros e a DressX.

Tanto para os participantes quanto para os observadores, o evento é um experimento coletivo altamente aguardado. De certa forma, o fato de esse evento existir é suficiente para impressionar. “Obviamente, você cria grandes expectativas, mas temos que entrar com a mente aberta e assumir riscos”, diz Bousis, da Dundas.

As marcas medirão o sucesso pela qualidade da execução e nem tanto pela quantidade de vendas ou participantes”, diz Shashi Menon, fundador do mercado NFT Unxd, que ajudou a introduzir marcas como Dolce & Gabbana e Etro em projetos de metaverso, incluindo esse. “Embora o apetite pela experimentação digital tenha acelerado nos últimos dois anos, há alguma preocupação entre as marcas de luxo de que a tecnologia possa ter um aspecto ‘desumanizante’”, diz ele. “Remover parte dessa magia [física] pode criar um medo de que eles estejam perdendo o que os torna especiais no mundo real, então estamos mostrando que é possível reter e estender isso, em vez de substituí-lo.”

Menon aplaude as marcas estabelecidas na MVFW que estão “dispostas a brincar e experimentar o meio”, o que é um ponto importante: cada marca que entra no espaço, em última análise, conta uma narrativa que também influencia outras marcas. “Quanto mais essas grifes virarem cases bem-sucedidos, mais ajudarão a tirar o ‘medo’ das outras marcas”, diz ele.

A própria Decentraland estará sob observação geral, já que se espera visitantes e desenvolvedores de primeira viagem – e espera-se que eles permaneçam online depois das “festas digitais” acabarem. O principal concorrente da Decentraland é a Sandbox.

Os primeiros a entrar no metavreso, Gucci e Adidas, por exemplo, começaram a desenvolver imóveis virtuais no The Sandbox e não participarão da MVFW. Algumas fontes dizem que isso acontece porque grandes marcas têm orçamento o suficiente para hospedar seus próprios eventos virtuais – e não precisam dividir os holofotes com outras grifes.

“Estamos tentando ser super descentralizados e justos com todos”, diz Hamilton, “[Há] muito atrito entre as marcas na moda; elas não querem ser posicionadas ao lado de outras e todas querem o maior destaque possível. Não queremos estar em uma posição em que essas grifes façam julgamentos. Não queremos anunciar algo como ‘o evento principal’.”

Os grandes desfiles ainda ancoram a programação de estreia. A quinta-feira começa com um desfile da Perry Ellis, seguido de desfiles e festas organizadas pela Dolce & Gabbana e Philipp Plein, que exibirá designs apenas digitais. Na sexta-feira, serão apresentadas a Anrealage, a Etro e a Dundas, seguidas de um afterparty da marca de moda digital Tribute Brand e do DJ Icykof. No sábado, Cider, Fresh Couture e The Fabricant se apresentarão, seguidos de uma afterparty organizada pela marca italiana de tênis Hogan e pelo mercado NFT Exclusible com o DJ Bob Sinclar. No domingo, os produtores de arte digital, The Vogue, exibirão uma colaboração com a marca de streetwear Hype, seguida pela casa de moda digital Placebo; a marca de luxo digital Auroboros fechará a MVFW, com outros eventos a serem anunciados.

Isso representa uma mistura do digital e físico que dividem um mesmo calendário, mas com diferentes estratégias. A Dolce & Gabbana mostrará uma coleção sob medida de roupas criada especificamente para a MVFW e não baseada em uma coleção existente anteriormente. A Etro exibirá looks de gênero neutro que estão estreando digitalmente e serão vendidos em formato digital e físico.

A Dundas apresentará um desfile de 12 looks que inclui algumas peças da nova coleção física e outras criadas exclusivamente para esse evento.Embora os designs da Dundas não possam ser comprados diretamente, eles serão exibidos em uma loja virtual. Bousis, da Dundas, diz que, no final, espera que as pessoas possam comprar simultaneamente as versões digital e física.

Outros nativos físicos que planejam participar são Nicholas Kirkwood, com uma loja temporária e vestíveis especiais; assim como a Forever21; Selfridges; Fred Segal; Imitation of Christ, com a marca de relógios de luxo Jacob & Co.; e Estée Lauder, como parceira exclusiva de marca de beleza.

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Além de exibir as coleções digitais, as marcas abrirão lojas e planejam lançamentos de NFT para impulsionar as vendas durante o evento. A Tommy Hilfiger, além de exibir sua coleção Primavera 2022, venderá NFTs vestíveis para avatares que também podem ser trocados por itens físicos, por meio de uma parceria com a Boson Protocol. Renderizações 3D de estilos exclusivos, como jaquetas e blusas moletons, flutuarão entre os visitantes da loja virtual. A Dundas criou um showroom em forma de galeria com um emblema de pantera no meio e uma área para os avatares ficarem no segundo andar.

A Jacob & Co. irá revelar o quarto número de uma série de NFTs de relógios digitais em um espaço temporário, e a Etro também terá uma loja pop-up. A DressX, em parceria com a Metaverse Travel Agency, exibirá alguns NFTs que fazem parte de sua coleção Fashion For Peace (incluindo o look Placebo, no topo), com o dinheiro das vendas revertido para apoiar comunidades de arte, design e moda da Ucrânia. “A coleção off-chain já arrecadou cerca de US$ 18.000, que foram doados ao Ministério da Defesa da Ucrânia e uma comunidade de designers 3D”, diz a cofundadora da DressX, Natalia Modenova.