A endocrinologista Anita Laboissière Villela destaca que a obesidade é uma doença crônica e complexa | Fotos: Jhonatan Cantarelle/Agência Saúde-DF
Endocrinologista do Centro Especializado em Diabetes, Obesidade e Hipertensão Arterial (Cedoh), a médica Anita Laboissière Villela destaca que a obesidade é uma doença crônica e complexa, sendo essencial a abordagem de uma equipe multiprofissional no tratamento, que requer, além de medicamentos, mudança de estilo de vida, com alimentação saudável e em quantidade adequada, atividade física regular, relacionamentos saudáveis e sono reparador.
Para desmistificar o uso de remédios, existem medicamentos extremamente úteis e necessários no tratamento da obesidade, mas pode haver contraindicação de acordo com o perfil de cada paciente. “Tem medicação que é absolutamente proibida para alguns pacientes e que para outros vai ser ótima. Os efeitos colaterais dependem do medicamento”, explica a especialista.
Remédio, só com prescrição
Após se automedicar para emagrecer e enfrentar os efeitos colaterais, a advogada Márcia Neri buscou acompanhamento especializado e passou a ser atendida na rede pública do DF
A médica dá o exemplo da sibutramina, que aumenta a frequência cardíaca e pode elevar a pressão. “Se uma pessoa com hipertensão arterial descontrolada tomar, pode ter um AVC ou um infarto”. Já em pacientes que possam utilizar a substância e recebam a correta orientação e acompanhamento médico, o emagrecimento é de cerca de 15% do peso inicial. “Ou seja, para uns é remédio, para outros é veneno”, enfatiza.
Outro ponto de atenção é sobre a dosagem. Algumas medicações necessitam de escalonamento de dose, o que o paciente, por conta própria, não terá conhecimento, aumentando o risco de efeitos colaterais.
“O caminho para perder peso é um processo difícil, mas a parte mais difícil é a manutenção do peso perdido. Por isso a importância da mudança de vida, ou o resultado vai durar pouco”Flávia Franca, referência técnica distrital (RTD) de endocrinologia
Em relação à semaglutida, medicamento bastante conhecido, a referência técnica distrital (RTD) de endocrinologia Flávia Franca ressalta que há importantes critérios para indicação – entre eles, ter um bom funcionamento do fígado e não possuir histórico de câncer de tireoide, pancreatite ou pedra na vesícula.
“Medicamentos prescritos contra a obesidade vieram para ajudar, não são vilões, mas devem ser utilizados só por quem tem excesso de peso e com indicação médica. O caminho para perder peso é um processo difícil, mas a parte mais difícil é a manutenção do peso perdido. Por isso a importância da mudança de vida, ou o resultado vai durar pouco”, alerta.
Mudança de hábitos
A nutricionista Cássia Regina de Aguiar Nery Luz observa que, por mais efetiva que a medicação seja, não cumpre o papel de tratar a obesidade em todos os fatores causadores da doença
Sem associar o tratamento a uma mudança no estilo de vida, é muito comum que a pessoa volte a ganhar peso. É importante ter ciência que os cuidados, na obesidade, são a longo prazo.
“Sem uma boa alimentação, uma prática de atividade física, um cuidado com a saúde mental, a gente não consegue atingir os fatores causais da doença, e ela acaba se tornando uma doença recidivante [recorrente]”, pontua a nutricionista Cássia Regina de Aguiar Nery Luz, que também integra a equipe do Cedoh.
Por isso, a orientação das profissionais é que o primeiro passo seja buscar uma equipe de saúde e iniciar atividade física com acompanhamento. Para evitar frustrações, usuais em quem enfrenta o excesso de peso, é aconselhável ter em mente que o medicamento, se indicado, será apenas um dos pilares do tratamento.
“É necessário explorar diversas áreas. Fazer aula de dança, natação, caminhada. Experimentar e ver o que vai gostar para dar continuidadeAngelina Freitas Siqueira, fisioterapeuta
Para começar um exercício físico e criar um hábito saudável, a sugestão é que o paciente busque algo prazeroso. “É necessário explorar diversas áreas. Fazer aula de dança, natação, caminhada. Experimentar e ver o que vai gostar para dar continuidade”, opina a fisioterapeuta Angelina Freitas Siqueira.
Após sentir na pele os efeitos colaterais da automedicação para emagrecer e perder um irmão de 31 anos por causa da obesidade, Márcia Neri adotou essas dicas. “De lá para cá, me cuido por questão de saúde mesmo. Estou diabética e preciso ter qualidade de vida”, conta.
Quem procurar?
Pessoas interessadas devem buscar uma unidade básica de saúde (UBS) para mais informações. No site InfoSaúde, é possível localizar o local de referência de acordo com a residência do usuário.
Na UBS, o paciente é avaliado. Alguns casos podem ter indicação de acompanhamento na própria unidade, enquanto outros são encaminhados para a atenção secundária.