Curso na unidade do Guará fortalece adaptação de alunos não nascidos no Brasil com conteúdos de cidadania e cultura adaptados às crenças e hábitos originais dos estudantes


Um mural cheio de histórias ocupa o corredor do Centro Interescolar de Línguas (CIL) do Guará, instituição que está formando 13 estudantes estrangeiros que manifestaram interesse em aprender a língua portuguesa. O curso é apoiado em um tripé que envolve língua, cultura e cidadania, sempre respeitando as crenças e os hábitos de cada estudante.

Os cartazes no mural, preenchidos com relatos manuscritos e imagens de diversos países, contam histórias como a do comerciante Jhon Aguirre, 42, que veio de Bogotá, a capital da Colômbia, para mudar de vida.

Ele é um aluno de nível 6 no CIL do Guará e já fala o português de forma fluente. Jhon se diz grato por ter tido a oportunidade de ser chamado para o programa voltado para a comunidade imigrante. Além disso, ele afirma ter adotado a pátria brasileira como seu segundo lar.

“O Brasil é um país maravilhoso, cheio de oportunidades. Eu sou muito empolgado com o estudo da língua, e o curso me abriu muitas portas. Me ajudou a desenvolver e desenrolar minha língua, porque eu falo castelhano; então, por mais que a gente tenha uma familiaridade com o idioma, não é a mesma coisa, porque eu não sou nativo. Mas a gente tenta dia após dia estudar, memorizar os termos e aprender as pronúncias”, acentua.

“ Quem migra de seu país e se sente um pouco desolado e desamparado, vê que o Brasil oferece essas oportunidades para reforçar seu crescimento dentro do país” – Maria Mago, venezuelana

O colombiano soube do curso por meio do Instagram, enquanto pesquisava, e se inscreveu. Ele conta que no futuro quer cursar o ensino superior, tentando alguma bolsa para a faculdade. “Eu acho que é importante que o governo, as ONGs e a comunidade internacional que apoiam esses projetos continuem dando a possibilidade de que mais pessoas estrangeiras possam fazer parte [dos cursos], e que esses auxílios continuem sendo dirigidos para essa comunidade do CIL, porque são pessoas que focam muito a parte humana, não só em questão de idioma, mas em cultura”, acrescenta John.

A venezuelana Maria Mago, 35, faz o curso há menos tempo, cursando o nível dois. Jornalista, ela veio para o Brasil há sete meses, junto ao três filhos e o marido, que trabalha na Embaixada da Venezuela.

Maria conheceu o curso de português pelas redes sociais da comunidade do Guará. Para ela, aprender o idioma nativo é uma oportunidade que contribui com conhecimento e crescimento pessoal. “A professora é muito amável, carinhosa e paciente. É importante, porque nem todas as pessoas têm disponibilidade econômica para poder pagar esse curso. Quem migra de seu país e se sente um pouco desolado e desamparado, vê que o Brasil oferece essas oportunidades para reforçar seu crescimento dentro do país”, declara.

O nigeriano Ayodele Sijibomi, 27, reforça a ajuda do curso não apenas na integração, mas também na economia financeira. “Estar aqui, vivendo no Brasil, aprendendo e fazendo esse curso, é muito bom, além de possibilitar que a gente economize dinheiro enquanto aprende. Vem com muitos benefícios e abre muito a mente. Tem muitas experiências boas, comidas… Adoro fazer novos amigos, e as pessoas são realmente muito receptivas. O ambiente é, no geral, maravilhoso”, observa o aluno.

Aprendizagem e bem-estar

Professora da Secretaria de Educação do DF (SEE) há cerca de 29 anos, Fabíola Ribeiro de Souza leciona português no CIL do Guará. De acordo com ela, é um curso na perspectiva do acolhimento, além do ensino de línguas, voltado para o atendimento de todos os migrantes internacionais – em especial pessoas que saem dos seus países por questões de deslocamento forçado.

“A diferença do curso é essa perspectiva interdisciplinar com a psicologia, a pedagogia e a introdução das narrativas como um método de ensino e desenvolvimento de aprendizagem da língua, porque, com as narrativas, a aula se torna mais pessoal. Normalmente introduzo um tema falando de algum assunto da minha vida, do meu passado, algo que me aconteceu. A partir daquilo, eu tiro a parte gramatical que quero trabalhar com eles, que vão escrever falando deles. É um trabalho inovador, porque busca essa questão do bem-estar global do estudante aliado à aprendizagem”, explica a professora.

Durante o curso também são trabalhados temas como direitos humanos e o Sistema Único de Saúde (SUS), equipamentos aos quais os alunos têm direito e acesso, como qualquer cidadão brasileiro. O curso é no formato híbrido, ou seja, duas vezes por semana online e uma vez por semana presencial.

No encontro semanal há o Atendimento Linguístico Especializado (ALE), para os estudantes que são de países da Ásia e falam línguas pouco comuns na América Latina, como urdu ou árabe. Lá os alunos passam por atendimentos individuais feitos pelos professores.

Mesmo não sendo fluentes na língua materna de cada estudante estrangeiro, os professores conseguem intermediar bem a comunicação e os aprendizados, utilizando estratégias pedagógicas que ajudam na formação dos alunos.

“Essa é a questão de você ser uma professora bem-formada, que é o que a Secretaria de Educação permite. Você tem formas de encaminhar a aula com os temas, imagens, de forma que eles aprendem. Claro que é importante dominar pelo menos o inglês, porque numa situação muito difícil você tem como mediar”, destaca a pedagoga.

Fabíola ressalta, ainda, que o projeto tem ajudado centenas de pessoas, além da escola, onde os estudantes brasileiros têm a chance de conversar e interagir com uma pessoa de outro país no nível que eles estão aprendendo. “Eu tenho muita gratidão pelo GDF, e queria exaltar a Diretoria de Direitos Humanos da Secretaria de Educação, que tem dado todo o apoio. Espero que logo se transforme em uma política pública”, afirma.