Ao longo da semana, GDF e entidades do setor produtivo se reuniram para estudar medidas que possam garantir efeitos positivos para população, empresas e governo. Preocupação gira em torno da reabertura, enquanto casos de Covid-19 ainda sobem
Mesmo com a reabertura de parte do comércio adiada em uma semana, a decisão ainda gera incertezas. Ao mesmo tempo em que empresários sofrem prejuízos financeiros, projeções mostram que a curva de infecções e de mortes pela Covid-19 no DF ainda é ascendente. Enquanto entidades do setor e o Governo do Distrito Federal (GDF) estudam planos para uma retomada gradual e cercada de condições indispensáveis, trabalhadores do ramo e pesquisadores temem as consequências da medida.
Mesmo com a pressão de alguns setores para a retomada, o movimento não deve ser o mesmo. O índice que calcula a Intenção de Consumo das Famílias (ICF) atingiu o segundo menor nível da série histórica do DF — que começou em janeiro de 2010: 86,4 pontos. A taxa só foi menor em julho de 2016, quando o indicador ficou em 84,2. Feito pela Federação do Comércio de Bens, Serviços e Turismo do Distrito Federal (Fecomércio/DF), o levantamento saiu na semana passada e contou com a participação de cerca de 600 famílias, entrevistadas nos últimos 10 dias de março.
O ICF varia de zero a 200, conforme a percepção de insatisfação (zero a 100 pontos) ou de satisfação (100 a 200) dos entrevistados. Os temas das perguntas envolvem emprego, renda e capacidade de consumo. O presidente da Fecomércio/DF, Francisco Maia, avalia que, diante do cenário socioeconômico atual, o mais indicado é que a abertura seja gradativa. “Todo mundo está com medo de sair de casa, e mais gente está deixando de comprar. Os empresários sabem disso. Reabrir o comércio não significa que teremos mais vendas. Mas, aos poucos, elas vão crescendo”, acredita.
Para o professor do Departamento de Economia da Universidade de Brasília (UnB) Carlos Alberto Ramos, a situação de outros países deve servir como exemplo. Ele lembrou que, em vários deles, as quarentenas foram rígidas e só flexibilizadas após a queda no número de infecções. “Se esse processo se sair mal (no DF), podemos ter o que vimos na Itália, Espanha, Inglaterra. O risco é ter de voltar atrás, porque houve descontrole (da situação)”, comenta. “A reabertura pode ser um tiro no pé? Sim, pois muitas pessoas estão com medo de sair e podem se sentir inseguras no sentido de não planejar a longo prazo. Mas, se der certo, ela pode gerar um círculo virtuoso. Não há uma receita, mas é preciso estar seguro (da decisão), pois a vida das pessoas está em jogo”, completa Carlos Alberto.