Nesta segunda (11) é celebrado o Dia Nacional da Prevenção da doença, que atinge 96 milhões de pessoas no Brasil
Não é uma questão meramente estética ou mesmo individual: a obesidade é um problema a ser enfrentado de maneira profissional pelos serviços de saúde para garantir o bem-estar da população. O desafio é lembrado todos os anos em 11 de outubro, Dia Nacional de Prevenção da Obesidade, e diariamente faz parte do trabalho da Secretaria de Saúde do DF, desde o atendimento na rede de atenção primária até o acompanhamento especializado.
“A obesidade não é apenas uma questão de força de vontade. Depende do ambiente em que a pessoa está inserida, depende da oferta de alimentos no ambiente em que se reside ou trabalha”, explica a gerente de Serviços de Nutrição da Secretaria de Saúde do DF, Caroline Rebelo.
Dentro da estratégia de saúde da família, por vezes, toda a alimentação de uma família deve ser modificada. “É uma doença multifatorial, então não existe um fator que seja mais importante do que outro para o desenvolvimento da obesidade. Podem envolver questões psicológicas, uso de medicamentos, mau hábito alimentar, sedentarismo, por exemplo”, completa a nutricionista.
A porta de entrada para o tratamento na rede são as Unidades Básicas de Saúde. É onde os pacientes, que muitas vezes procuram a assistência médica por queixas diversas, recebem o primeiro acompanhamento para tratar a obesidade. Desde o início o tratamento é interdisciplinar, com nutricionistas, psicólogos, endocrinologistas e cardiologistas.
Dependendo do caso, a pessoa poderá ser encaminhada para uma unidade especializada, como o Centro Especializado em Diabetes, Obesidade e Hipertensão (Cedoh), localizado na Asa Norte. Ali, uma equipe multidisciplinar pode acompanhar o desenvolvimento dos pacientes em diversos aspectos da vida.
“Não basta só fazer dieta e atividade física. Existe todo o contexto, como controlar o stress, uma boa quantidade de sono, ingestão de água. Por isso é muito importante ter uma equipe multiprofissional”, conta a endocrinologista Alexandra Rubim, gerente do Cedoh.
O encaminhamento para cirurgias bariátricas ocorre apenas com o aval da equipe, que analisa o caso de cada paciente. No DF, dados da Secretaria de Saúde indicam que cerca de 70,28% dos adultos acompanhados pela Atenção Primária à Saúde estavam com excesso de peso em 2020, contra 59,84% em 2015.
Acolhimento e união de esforços
A palavra-chave do atendimento é acolhimento. “A pessoa fica envergonhada, se sente julgada. Quando ela chega a um serviço de saúde onde ela é acolhida, onde ela é ouvida, isso traz todo um impacto diferente”, diz Alexandra. Combater o preconceito é uma das metas da Secretaria de Saúde.
O tema esteve em pauta em capacitações que envolveram cerca de 240 servidores nos últimos anos, todos com a responsabilidade de atuarem como multiplicadores nas suas unidades. As formações também incluíram os procedimentos de como acolher os pacientes e encaminhar o tratamento.
Isso porque outro aspecto apontado como relevante é a necessidade da abordagem múltipla. “Não é possível realizar o enfrentamento da obesidade sem que haja ações intersetoriais”, diz a nutricionista Caroline Rebelo.
Ações educativas, de esporte, de lazer, de transportes e até de segurança pública entram no enfrentamento integral da obesidade como uma doença em ampla expansão na sociedade. No DF, destacam-se, por exemplo, as iniciativas da Secretaria de Educação para combater a obesidade infantil e os projetos de segurança alimentar da Secretaria de Desenvolvimento Social, que incentivam o consumo de alimentos saudáveis pela população em vulnerabilidade.
“A meta não é ser magro, é ter consciência”
A frase é de Regina Lopes, de 53 anos, moradora do Guará. Quatro anos atrás, ela, que tem 1,57m de altura, chegou aos 106 quilos. “Eu cheguei a um ponto em que achava que estava com outra doença”, conta. A estratégia para vencer o desafio de controlar o peso teve como foco o acolhimento.
O tratamento começou na UBS 1 do Guará, a mais próxima de sua residência. Capacitado, o médico de plantão soube explicar que o desafio de saúde era enfrentar a obesidade. “Se todo profissional de saúde agisse dessa forma, talvez o índice de obesidade no Brasil não estivesse tão alto. Entre o paciente e o profissional de saúde tem que existir a sinceridade. Entre os familiares também”, diz Regina.
Encaminhada ao Cedoh, ela participou de atendimentos em grupo por dois anos. O diferencial, revela, foi a presença de uma equipe capacitada. “Foi um período de muito acolhimento e de um trabalho árduo. Eu tive nutricionista, endocrinologista, psicólogo, terapeuta e fui muito bem assistida. Tem os profissionais de saúde e tem a nossa boa vontade também.”
Hoje, com cuidados na alimentação e prática de exercícios físicos, ela se orgulha por conseguir se manter na faixa de peso esperada para o seu biotipo e, principalmente, por se sentir com uma qualidade de vida maior. “Eu não sou magra, nem gorda. Estou com um peso bacana e me sentindo bem.”
Aumento do número de casos
Segundo o Ministério da Saúde, o excesso de peso atinge 96 milhões de pessoas no Brasil. Entre 2003 e 2021, a proporção de indivíduos com obesidade saltou de 12% para 26% da população. Dados da Pesquisa Nacional de Saúde (PNS 2019) apontam que a condição de obesidade já afeta cerca de 41,2 milhões de adultos, com distribuição maior em mulheres (29,5%) do que em homens (21,8%).
No DF, dados da Secretaria de Saúde indicam que cerca de 70,28% dos adultos acompanhados pela Atenção Primária à Saúde estavam com excesso de peso em 2020, contra 59,84% em 2015. O excesso de peso foi registrado, no ano passado, em 55,04% dos idosos, 50,4% das gestantes, 34,98% dos adolescentes, 27,9% das crianças de 5 a 10 anos de idade e 7,87% das crianças abaixo dos 5 anos.
A obesidade é apontada como fator de risco para doenças cardiovasculares, distúrbios musculoesqueléticos, problemas psicológicos e câncer. A preocupação aumentou com a pandemia de covid-19: pacientes nesta condição apresentaram maiores complicações, tempo de internação e índice de óbitos.
Quem é considerado obeso?
O critério utilizado para avaliar e classificar o estado nutricional de uma pessoa é o Índice de Massa Corporal (IMC), de acordo com as recomendações da Organização Mundial de Saúde. A fórmula para o cálculo do IMC é peso (em kg) dividido pelo quadrado da altura (em metros). Por exemplo: uma pessoa de 80 quilos e 1,70 de altura deve dividir 82 por 1,70×1,70, obtendo o IMC de 27,68.
A pessoa é classificada com excesso de peso quando o IMC é igual ou superior a 25 kg/m² e classificada com obesidade quando o IMC é igual ou superior a 30 kg/m². Vale lembrar também que a doença possui três estágios: a obesidade de grau 1 (IMC>30 kg/m² e IMC<35 kg/m²), a obesidade de grau 2 (IMC>35 kg/m² e IMC<40 kg/m²) e o estágio mais grave, que é a obesidade de grau 3 (IMC>40).
*Com informações da Secretaria de Saúde