Mistérios como um armário trancado na Vila Belmiro e a intervenção em uma guerra na Nigéria entrelaçam sua carreira
O rei do futebol teve sonambulismo em diversos momentos da sua vida, inclusive quando esteve na seleção brasileira. Maior jogador de todos os tempos, Pelé morreu nesta quinta-feira (29/12), aos 82 anos, deixando uma história com marcas impressionantes no esporte. Fora das quatro linhas, o rei do futebol também reúne histórias curiosas e outras dignas de um filme de ficção.
O que dizer do homem que esnobou os Beatles, fugiu disfarçado de um país em meio a uma tentativa de golpe de estado, e chegou a quebrar o dedo do astro de Hollywood Sylvester Stallone com um chute a gol durante uma gravação?
Há histórias intrigantes também. Uma delas diz respeito ao seu armário, trancado desde 1974 na Vila Belmiro, sede do Santos. Mesmo com seguidas reformas por lá, o armário do jogador permanece intacto e nem mesmo a diretoria do clube sabe o que ele deixou guardado no local. O mistério permanece.
Confira abaixo algumas histórias curiosas envolvendo Pelé:
Sonâmbulo
O rei do futebol teve sonambulismo em diversos momentos da sua vida, inclusive quando esteve na seleção brasileira. Na infância, ele costumava falar muito durante o sono. Levantava-se da cama e saía andando, ainda que estivesse dormindo. Muitas vezes precisou ser acordado aos berros pelos pais, Dondinho e Celeste. Em sua biografia, Pelé contou que uma vez que Pepe, seu companheiro de time, o viu se levantar no meio da noite, gritar “gol” e voltar para a cama.
Fugiu de tentativa de golpe de estado na Nigéria
Uma das pessoas mais conhecidas do mundo, Pelé conseguiu passar despercebido e fugir de uma tentativa de golpe de estado na Nigéria, em 1976. Para retirar o craque com segurança do país, era indispensável o anonimato e, por isso, a embaixada brasileira montou uma operação secreta que envolveu as empresas Cotia Trading e a Varig.
O rei cruzou a capital, Lagos, escondido no carro do embaixador Geraldo Heráclito de Lima, enganou a polícia e a alfândega e embarcou clandestinamente, vestido com roupas de piloto em meio à tripulação de um Boeing 707 da Varig, a serviço da Cotia Trading. Ele desembarcou no Rio de Janeiro sete horas depois, ileso.
Por falar em Nigéria
O rei do futebol parou uma guerra na Nigéria quando jogou com o time do Santos no país, em 1969. Ele e o time viajaram ao país a convite do governo para uma zona de conflito para jogar uma partida amistosa contra a seleção do centro-oeste do país africano.
O Santos ganhou de 2×1 e os nigerianos interromperam a guerra para lotar o estádio e acompanhar de perto Pelé. Em setembro deste ano, o clube lançou o uniforme três com referências ao episódio com as frases “Juntos pela Paz, juntos pelo futebol alegre”, “Nigéria 1969” e “O Dia que a Guerra Parou”
Esnobou os Beatles
Pelé conheceu John Lennon em Nova York em 1975, quando se mudou para a cidade, onde jogou no New York Cosmos. Ele fazia aulas de inglês na mesma escola de idiomas em que o cantor aprendia japonês e, em um intervalo das aulas, o craque esbarrou em Lennon, que contou que ele e os outros Beatles tentaram visitá-lo no hotel da seleção brasileira na Copa do Mundo (1966), disputada na Inglaterra.
Tietes da seleção e, principalmente, do camisa 10 do time, John, Paul, George e Ringo, no auge da fama e em um ano especialmente importante para a banda, foram barrados pelos diretores da Confederação Brasileira de Futebol. O rei do futebol lamentou, mas disse que não poderia ter feito nada à época.
Susto no Caribe
Pelé costumava ser carregado nos ombros pelos torcedores, mas a experiência que teve em 1972 em Trinidade e Tobago foi diferente. Um pouco assustadora. Os jogadores do Santos, que não estavam nada felizes em jogar em um país com distúrbios civis e tanques nas ruas, tinham combinado de terminar o jogo e ir o mais rápido possível para o aeroporto.
A delegação do clube, no entanto, não contava com a reação da torcida ao gol de Pelé no final do jogo. Eles invadiram o campo do estádio Port of Spain, colocaram o jogador nos ombros (sem que ele fosse consultado) e saíram em um desfile comemorativo marchando pelas ruas da cidade. Com Pelé nos ombros, como se fosse um troféu. Ele foi resgatado depois e o único contratempo foi um pequeno atraso no voo.
Quebrou o dedo de Sylvester Stallone
O craque atuou em filmes brasileiros de Renato Aragão e com estrelas de Hollywood. Durante a gravação do longa “Fuga pela Vitória” (1982), ele deu um chute tão forte na bola que quebrou o dedo de Sylvester Stallone, que atuava como um goleiro pouco talentoso.
O filme conta a história de um jogo fictício entre um time nazista e uma equipe de prisioneiros durante a Segunda Guerra Mundial. Stallone contou em entrevistas que a bola de futebol parecia de canhão de tão dura e pesada. “Eu só consegui reverenciar”, disse o ator.
Armário trancado na Vila Belmiro
Um armário trancado na Vila Belmiro, sede do Santos, é um dos mistérios que envolvem a carreira de Pelé. Quando ele se despediu do time em 1974, se ajoelhou em frente a ele e pediu aos deuses do futebol que, mesmo com sua ausência, o clube continuasse a vencer.
O rei deixou um pertence no armário, que até hoje ninguém sabe o que é, trancou e levou a chave. A sede já passou por inúmeras reformas, mas o armário trancado de Pelé permanece intacto. O Santos já informou que nunca irá mexer nele ou revelar seu conteúdo e incluiu uma visita ao guarda-roupa no passeio guiado para fãs e torcedores do clube.
Pelé falou que não há nada impactante guardado por lá. O mistério permanece.