Especialista destaca a importância da observação familiar, da empatia e da acolhida dos sentimentos
A pandemia impactou diretamente a saúde mental das crianças e adolescentes, que tiveram suas rotinas alteradas. Foram atingidos pela tristeza, ansiedade, baixa autoestima, falta de perspectiva, frustrações e outras questões que afetam sua saúde mental. Neste mês da campanha de prevenção ao suicídio, “Setembro Amarelo”, é importante também ter atenção com os sentimentos e o comportamento dos pequenos e jovens.
De acordo com um novo trabalho, publicado no periódico JAMA Pediatrics, pesquisadores da Universidade de Calgary, no Canadá, avaliaram dados de 29 estudos com crianças e adolescentes em diversos países e chegaram a alguns números alarmantes: um em cada quatro sofre de depressão, enquanto um em cada cinco está lutando contra a ansiedade.
A psicóloga e coordenadora do curso de Psicologia da faculdade Anhanguera, Karen Loiola, explica que a pandemia desencadeou muitas emoções nas crianças e adolescentes. “O isolamento social trouxe várias limitações e impactos na vida das crianças e adolescentes. Um erro ainda comum, é menosprezar a presença da ansiedade e da depressão na infância. Elas não são exclusividade de adultos, não”,pontua.
Em relação à tristeza, a especialista conta que é uma resposta emocional mais automática para frustração e já se encontra presente nos pequenos. “As crianças têm dificuldade de falar suas angústias, por isso, se faz necessário observar o comportamento, o sono, a concentração da criança. Além disso, acolher o sentimento delas, dar atenção”, detalha.
Outro cuidado que deve ser tomado é com o uso excessivo dos recursos tecnológicos, como celular, tablet, computadores, pois podem causar prejuízo à saúde mental.”Crianças e adolescentes estão cada vez mais confinados ao entretenimento digital. Deve se preocupar quando este uso é excessivo, além de ter a supervisão de um adulto. Caso contrário, criança e adolescente não compreenderão a noção de limites nesse ambiente, além de ter atenção com os conteúdos abusivos que podem afetar a saúde desse público”,reforça.
Observação familiar
Como perceber que uma criança e um adolescente estão com a saúde mental afetada? Quais os sinais? A especialista fala que é importante observar a mudança de comportamento do filho e analisar como está o nível de relacionamento social dessa criança ou adolescente. Os adolescentes que apresentam algum tipo de transtorno costumam ficar mais introspectivos, afastando-se dos seus grupos sociais e apresentando também alteração no apetite, comendo pouco ou mais vezes ao dia. Na escola, eles costumam apresentar um baixo rendimento escolar, porque ficam com uma baixa concentração, dificuldade de memória e um distanciamento reflexivo maior, acarretando baixa motivação para os estudos.
Empatia e apoio
Para ajudar as crianças e adolescentes que estão com a saúde mental afetada, a especialista destaca alguns pontos como a empatia e o amparo. É necessário pais e familiares auxiliarem as crianças quanto os adolescentes a nomear de fato e verbalizar o que eles estão sentindo. “É importante observar a linguagem da criança através do brincar e do desenho. É como ela costuma expressar o que sente já que ainda não tem uma linguagem verbal elaborada como nós adultos”, orienta Loiola.
Para os adolescentes, que estão em processo de construção da sua própria identidade, é preciso dar espaço para apresentarem os sentimentos e pensamentos que têm a respeito de determinado tema, assunto ou situação. A psicóloga recomenda, também, encaminhar a criança ou adolescente diretamente ao especialista em saúde mental para uma avaliação.