DF chega a 35.368 casos confirmados e 432 mortos pelo novo coronavírus. Enquanto isso, representantes de bares, restaurantes, salões de beleza e academias promoveram manifestação, pedindo a retomada das atividades, que não pode ocorrer por determinação judicial
Segundo Jael Antônio, o objetivo do ato foi pressionar a Justiça. “Nós queremos que a decisão de abrir e de fechar seja do governador. Por que a decisão de fechar pôde ser dele e de abrir não?”, questionou. De acordo com o presendente do Sindhobar, o combinado com Ibaneis Rocha (MDB) era de retorno das atividades até 1º de julho, no máximo. Jael defende que a retomada deve ser urgente. “Nós estamos beirando 2 mil empresas fechadas e chegando a quase 30 mil demitidos na cidade. Temos que voltar ao trabalho imediatamente”, declarou.
Para os representantes dos segmentos fechados, após autorização do retorno das atividades, o principal desafio será atrair os clientes. “Nós sabemos que a abertura é só o primeiro passo e que o movimento vai voltar devagar. Mas, nosso foco é lutar pela sobrevivência das empresas”, afirmou Beto Pinheiro. O presidente da Abrasel garante uma retomada segura e consciente. “Temos plenas condições de voltar com segurança. A gente consegue afastar as mesas, evitar aglomerações e contatos e fazer uso de equipamentos de proteção individual (EPIs)”, adiantou.
Desde o início da pandemia, o garçom Michael Nascimento, 26 anos, vive período de incertezas na profissão. Nos primeiros 15 dias da crise na saúde, metade dos funcionários da empresa em que trabalha foi dispensada. “Os outros que ficaram, inclusive eu, correm o risco de ser demitidos se não reabrir até dia 1º de julho”, analisou. Emocionado, o funcionário revelou preocupação com o futuro. “Como sou da área de atendimento, não tenho o que fazer se a loja não estiver funcionando. Então, é um custo para o empresário manter a gente, mesmo com queda salarial. Além disso, fica difícil para nós (garçons), porque somos comissionados, se não vendemos, não ganhamos”, lamentou.
Para a cabeleireira Dinorá Cadori, 50, a decisão da magistrada foi injusta. “Ela não ouviu as categorias. Viemos para conscientizar, de alguma maneira, essa juíza que têm interferido contra a abertura”, disse. Proprietária de um salão de beleza na Asa Sul, ela passa dificuldades para manter o salário dos 20 funcionários da empresa. “Estamos, há 90 dias, sem receita.
Nem todos os nossos funcionários receberam o auxílio. A gente está ajudando da maneira que pode, mas chega uma hora que a torneira fecha, não tem mais para onde correr”, reforçou. A retomada das atividades, portanto, seria a maneira de manter o negócio. “A solução é voltar a trabalhar, mesmo que seja pouco, com 30% ou 40% do que se trabalhava antes. Mas a gente vai recuperando a receita para, pelo menos, saciar as necessidades básicas”, avaliou Dinorá.
Durante a manifestação, professores e funcionários do setor de esportes defenderam a atividade como essencial para a saúde de todos. “Esse é um crime parar um setor que gera saúde e qualidade de vida”, afimou Lúcio Rogério Gomes, proprietário de um estúdio de pilates. Segundo ele, os estabelecimentos estão preparados para garantir os cuidados de higienização. “Nós temos protocolos estabelecidos por cientistas. As academias não vão abrir como eram antes, mas seguindo rigidamente esse protocolo de segurança”, apontou.
Para o vice-presidente da Federação Brasiliense de Tênis, Gilbert Soares, o maior impacto é sobre os professores de educação física. “Estão passando muito dificuldade com os clubes todos fechados e os treinos suspensos. Estamos aqui para mostrar que o tênis não tem perigo e para garantir o retorno da atividade”, pediu. O treinador de tênis Mário Mendonça, 43, também esteve no local para defender a categoria. “Temos mais de 20 metros de distância de um jogador para o outro, além de 640 metros de quadra entre os esportistas, sem compartilhamento de materiais e a céu aberto. Não tem o porquê do tênis não ser permitido”, acrescentou.
» Colaboraram Walder Galvão e Mariana Machado*
No último sábado, a juíza federal Katia Balbino Ferreira, titular da 3ª Vara Cível, proibiu o GDF de flexibilizar as medidas de distanciamento social por causa da covid-19. A magistrada acatou, em parte, um pedido conjunto do Ministério Público Federal (MPF), do Ministério Público do Distrito Federal e Territórios (MPDFT) e do Ministério Público do Trabalho (MPT) que questiona o plano de reabertura em um momento em que os números de casos de infecções pelo novo coronavírus aumentam expressivamente. Na segunda-feira, a Procuradoria-Geral do DF (PGDF) recorreu da decisão, sob a justificativa de haver afronta ao princípio da separação dos poderes e violação à ordem pública. No pedido de suspensão da liminar, o DF alegou que a interferência do Poder Judiciário sobre o Executivo local atrapalha “gravemente” a decisão sobre a retomada das atividades econômicas. O recurso tramita no Tribunal Regional Federal da 1ª Região.
Linha do tempo
Entenda de que forma as medidas e decretos do Governo do Distrito Federal (GDF) impactaram a vida dos donos de bares e restaurantes
Decreto n°40.509: suspendeu aulas da rede pública e privada de ensino. Também proibiu eventos, como shows e competições esportivas. Bares e restaurantes devem manter distância de dois metros entre as mesas
Decreto n°40.694: prorrogou o prazo de suspensão até 18 de maio
CARA A CARA
CONTRAEvidências científicas têm demonstrado que o novo coronavírus se espalha, principalmente, de pessoa para pessoa, por meio de gotículas respiratórias produzidas quando uma pessoa infectada tosse, espirra ou fala. A abertura de bares e restaurantes cria um ambiente propício para a disseminação da doença, pois as pessoas estão em local em que, para comer ou beber, têm de retirar a máscara protetora. As conversas costumam acontecer com as pessoas próximas umas das outras, o que facilita a disseminação do vírus. Outro fator é a alta rotatividade nesses locais, o que obriga os administradores a, frequentemente, desinfectar superfícies como mesas e cadeiras. Neste mesmo contexto, o Centro de Controle de Doenças do governo dos EUA informou que bares e restaurantes são considerados locais de alto risco para a transmissão do coronavírus. Farid Buitrago, presidente do Conselho Regional de Medicina do Distrito Federal.